Vicente Cândido Figueira Sabóia (Visconde de Sabóia)

O Dr. Cândido Figueira de Sabóia nasceu em Sobral a 13 de abril de 1835 e formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1858, portanto noventa anos antes do início dos cursos da Faculdade de Medicina do Ceará (1948). Seus pais foram o Coronel Sabóia, natural de Aracati, e D. Joaquina Figueira de Melo Sabóia, nascida em Sobral ao alvorecer do século XIX, 1800 e 1803, respectivamente.

Após lograr aprovação em concurso foi sucessivamente interno do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia, no terceiro ano, e interno de Clínica da Faculdade de Medicina, na sexta série. Aí recebeu fecunda orientação de mestres como Manoel Feliciano Pereira de Carvalho e de Antônio Costa, tendo, um ano depois de seu doutoramento, conseguido aprovação em concurso com tese brilhante defendida sobre Anestesia Cirúrgica, o que lhe valeu o cargo de lente opositor de Ciências de Cirurgias.

Em 1863 ingressou na Imperial Academia de Medicina para em 1891 e 1892 tornar-se seu presidente. Em 1871 conquistou a cátedra de clínica cirúrgica. Viaja à Europa em 1871 por delegação da congregação da Faculdade de Medicina para estudar a organização das mais notáveis Faculdades de Medicina da Inglaterra, Alemanha, França e Itália. Seus méritos levam-no aos títulos de Membro do Imperial Conselho e posteriormente foi nobilitado por Sua Majestade com o título de Barão de Sabóia. Retorna à Europa em 1887 em companhia de D. Pedro com a incumbência de visitar e observar os Institutos de Ensino Prático das Faculdades de Medicina de Paris, Bordeaux, Lyon, Genebra, Berna, Basiléia, Zurique, Nápoles, Roma, Bolonha, Viena, Munique, Berlim e Strasburg. Ainda em viagem, foi agraciado com título de Visconde de Sabóia com Grandeza.

De regresso ao Brasil apresenta ao Ministro do Império, Barão de Loreto, minucioso relatório que serviria de base para a reorganização e modernização da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Como Diretor da Faculdade de Medicina imprimiu intenso ritmo das atividades laborativas, especialmente no campo da pesquisa e educação médicas.

Sobre o Visconde de Sabóia há vasta literatura e de sua lavra constam 45 trabalhos, compreendendo artigos e livros, publicações no País e no estrangeiro. Dentre os mais importantes destaca-se o Traité Theoretique et Pratique de La Science et de L’Art des Accouchements, editado em Paris em 1873. Este trabalho de 824 páginas, oferecido ao Imperador D. Pedro II, teve ampla aceitação na Europa, sendo adotado nas Faculdades de Medicina de Liège, na Bélgica, e Montpellier, na França.

Voltando um olhar sobre sua obra, verifica-se que ela se espraia de anestesia à cirurgia geral, obstétrica, urológica, traumatológica e ortopédica, passando por doenças infecciosas como malária e cólera, e termina, num evolver lógico e ascendente, com abordagem filosófica em ensaio versando sobre Materialismo e Espiritualismo em A Vida Psíquica do Homem, um alentado trabalho de 624 páginas, impresso por Laemmert & Cia. Editores (1903).

Nesse ensaio passeia pelas obras de Platão, Sócrates, Aristóteles, Santo Agostinho, Santo Tomaz de Aquino, Descartes, Kant, Leibnitz, Pascal e Malebranche de filiação espiritualista e pelas obras de notáveis representantes da escola Materialista como Demócrito, Spinosa, Lamarck, Darwin, Haeckel, Herbert Spencer, Stuart Mill, Alex Bain, Maudsley, Wundt Luys, Ribot, Letourneau, Bordeau, Fryllet, Le Dantes, Guyan, Le Bom, Büchner Sergi, Lombroso, além de Schopenhauer, de Artmann e Nietzsche como ele mesmo cita em seu prefácio.

Eis, em rápidos acenos, o porte do insigne médico que é o Patrono da Cadeira nº 1 da Academia Cearense de Medicina. Foi um vulto que se alçou aos mais altos níveis de consideração e apreço por seus contemporâneos e pósteros. Cearense que dignificou a ciência e arte de Hipócrates e se colocou ao respeito e admiração da comunidade e dos dirigentes do País, já nos idos tempos do Império do Brasil.

Geraldo de Sousa Tomé

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